A importância do conselho
consultivo em empresas
de capital fechado

Introdução

A publicação da coleção IBGC Orienta,
A importância do conselho consultivo
em empresas de capital fechado,
visa ampliar o conhecimento de
sócios, conselheiros e executivos
sobre a relevância do conselho
consultivo. O material esclarece
aspectos relacionados à aplicação,
funcionamento, limites e mecanismos
para a sua implementação e bom
desempenho, além de apresentar os
benefícios que esse fórum pode trazer
para a governança corporativa de
empresas de capital fechado.
A publicação busca dialogar com
conselheiros, executivos e sócios de
empresas que, mesmo sem a obrigação
de estabelecer um conselho de
administração, podem se beneficiar do
bom funcionamento de um conselho
consultivo. Este fórum tem o objetivo
de acompanhar o desempenho da
empresa, antecipar tendências de
mercado e riscos, debater questões
relevantes sobre o negócio, fornecer
opiniões e aconselhamentos não
vinculantes para a tomada de decisão
de sócios e administradores, e
auxiliá-los na adoção de boas práticas
de governança corporativa.
Em razão da ausência de previsão legal
para sua instalação e de seu caráter
não deliberativo, o funcionamento de
um conselho consultivo é naturalmente
menos rígido do que o de um conselho
de administração. Mesmo assim, como
será demonstrado ao longo desta
publicação, aos conselhos consultivos
são atribuídas responsabilidades,
ainda que distintas das conferidas
a um conselho de administração, e
espera-se que atuem em conformidade
com os princípios de integridade,
equidade, responsabilização,
transparência e sustentabilidade,
além de seguir as melhores práticas
preconizadas pelo IBGC 1.


Para mais informações, consultar: IBGC,
Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa – 6ª edição, 2023. Disponível em:
conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/
Publicacao.aspx?PubId=24640
Conselhos consultivos podem ser
encontrados também em startups
e scale-ups, organizações sem fins
lucrativos, companhias abertas,
multinacionais e cooperativas
em geral. A presente publicação,
no entanto, limita-se à análise do
funcionamento dos conselhos
consultivos em empresas de capital
fechado (independentemente do tipo
jurídico, seja limitada ou sociedade
anônima), com eventuais destaques
para o seu funcionamento em
empresas familiares.
Este IBGC Orienta se organiza em
torno de três perguntas-chave,
e cada uma delas corresponde a
um capítulo: (i) o que é conselho
consultivo; (ii) o que saber antes
de implementá-lo; e (iii) como ele
funciona na prática, abordando as
principais dúvidas relatadas por
sócios, conselheiros e executivos.
Ainda, conta com um apêndice que
contém um “roadmap” com passos
para a implementação, na prática,
de um conselho consultivo. Assim,
espera-se aprofundar a compreensão
da importância desse fórum para
empresas de capital fechado que estão
iniciando ou aprimorando sua jornada
de governança corporativa.
Por fim, recomenda-se a leitura
desta publicação em conjunto com
outras referências, tanto para uma
compreensão mais abrangente sobre
governança corporativa quanto para
um aprofundamento em assuntos
específicos. Ressalta-se, também,
que, assim como outras obras que
visam servir como ponto de partida
para discutir um tema tão amplo,
esta publicação não pretende
esgotar o assunto, nem deve ser
utilizada como guia para a resolução
de casos concretos e específicos,
que demandam a consulta de um
profissional qualificado.

O que é o conselho consultivo?

O conselho consultivo é um fórum
que tem como objetivo acompanhar
o desempenho da empresa, antecipar
tendências de mercado e riscos,
debater questões relevantes sobre
o negócio, fornecer opiniões e
aconselhamentos não vinculantes
para a tomada de decisão por sócios
e administradores, além de auxiliar
na adoção das boas práticas de
governança corporativa.
Diferentemente do conselho
de administração, um conselho
consultivo não toma decisões, pois
não possui poder deliberativo. Ele
debate, opina e recomenda caminhos,
objetivos e ações aos sócios e/ou
administradores, para que estes,
conforme suas atribuições e alçadas,
possam decidir sobre o rumo
da empresa.
Um conselho consultivo oferece aos
sócios de uma empresa de capital
fechado uma forma estruturada
e organizada de acompanhar o
desempenho do negócio, escutar
opiniões e recomendações de
profissionais qualificados e experientes
sobre temas relevantes e estratégicos,
além de promover as melhores
práticas de governança corporativa.
Esses fatores, que serão detalhados
no capítulo 2, podem contribuir
significativamente não só para tornar
a empresa mais competitiva, mas
também para reforçar sua imagem
e credibilidade junto às partes
interessadas (stakeholders2).
Por não ter caráter obrigatório ou
regulamentação por lei específica,
a decisão tanto pela instalação de
um conselho consultivo quanto pela
sua dissolução, está diretamente
relacionada à percepção dos sócios
sobre a contribuição efetivamente

2. Nesta publicação utiliza-se o termo “partes
interessadas” para se referir a stakeholders,
incluindo colaboradores, fornecedores, clientes
e comunidades, conforme definido e ilustrado
na 6ª edição do Código das Melhores Práticas
de Governança Corporativa, do IBGC, p. 15.
proporcionada por esse fórum. Para
compreender o valor de um conselho,
é importante que ele seja devidamente
implementado e, em especial, mantido
em operação por tempo suficiente,
permitindo que suas contribuições
sejam avaliadas sem imediatismo.
Para avaliar os benefícios de um
conselho consultivo, é fundamental
que esse fórum seja adaptado à
realidade, ao momento e ao contexto
da empresa, considerando seus riscos
e especificidades. É essencial que
possua clareza de escopo, limites
e responsabilidades; funcione com
disciplina e estrutura adequadas e,
idealmente, conte em sua composição
com ao menos um conselheiro
independente qualificado, com
experiência e perfil adequados para
contribuir com os desafios da empresa.
Classificação de conselheiros

Ainda que todos os conselheiros
tenham o dever e responsabilidade
de atuar com independência,
servindo ao melhor interesse da
organização, algumas classes podem
ser adotadas para delimitar o nível de
relacionamento com a organização
ou com as partes interessadas. Nesse
sentido, o IBGC sugere a distinção
entre conselheiros internos, externos e
independentes, conforme descrito.

Conselheiros internos: diretores
ou empregados da própria
organização;

Conselheiros externos: não
possuem vínculo empregatício
e não ocupam cargos na gestão
da organização, porém não se
enquadram na categoria de
independentes;
Conselheiros independentes:
“não possuem relações familiares,
de negócio, ou de qualquer outro
tipo, com sócios com participação
relevante, grupos controladores,
executivos, prestadores de
serviços, entidades sem fins
lucrativos que influenciem
ou possam influenciar, de
maneira significativa, seus
julgamentos, opiniões, decisões,
ou comprometer suas ações no
melhor interesse da organização”3.

IBGC, Código das Melhores Práticas de
Governança Corporativa – 6ª edição,
2023, p. 36.

O conselho consultivo e outros fóruns de governança


O conselho consultivo é um dos fóruns recomendados para o fortalecimento da governança
em empresas de capital fechado e deve possuir objetivos e limites muito bem definidos.
Há outras instâncias para a jornada de evolução, com atribuições específicas, tais como (e
não limitadas a) a diretoria executiva em todo tipo de empresa, assembleia de acionistas
em sociedades anônimas, a reunião ou o conselho de sócios em sociedades limitadas e o
conselho de família, em empresas familiares.
Por vezes, o conselho consultivo pode se deparar com temas que são de competência de
outros fóruns. Nestes casos, é importante que os conselheiros estejam atentos e incentivem
o tratamento dos temas nos fóruns adequados, de forma a ajudar com a disciplina
necessária em empresas que estão no início da jornada de governança.

1.1. Por que é importante tratar
o tema?

As empresas de capital fechado
constituem a grande maioria das
empresas em atividade tanto no Brasil
quanto no exterior. Essas empresas não
têm a obrigação legal de estabelecer
um conselho de administração, mas
podem se beneficiar muito de um
conselho consultivo.
Inúmeros são os desafios enfrentados
pelas empresas, tanto no âmbito
interno quanto externo – englobando,
por exemplo, os desafios de sucessão,
gestão e controle do negócio, na
perspectiva interna, ou as mudanças
trazidas pela transformação digital,
a competição em escala global, as
crises econômicas, políticas, sociais,
climáticas e ambientais, bem como
as crescentes exigências e pressões
de consumidores, no âmbito externo.
Empresas que já contam com um
conselho demonstram estar mais bem
preparadas e respaldadas por esse
fórum para superar esses desafios.
Nesse contexto, contar com um
conselho consultivo que aconselhe
e apoie sócios e executivos na
abordagem dessas questões pode ser
benéfico para a criação de valor e a
sustentabilidade do negócio.
Entretanto, é comum que sócios
manifestem resistência quanto à
implementação de novas estruturas de
governança corporativa, incluindo a
instalação de um conselho consultivo.
As resistências podem emergir por
desconhecimento sobre o assunto (por
exemplo, a crença da perda de poder
decisório dos sócios, e consequente
redução do controle sobre a
empresa); pelo receio de compartilhar
informações sigilosas, ou mesmo por
julgarem o conselho consultivo uma
despesa e não um investimento. Por
isso, é essencial que quem auxilia
os sócios e administradores na
formação de um conselho consultivo
esteja atento a essas dificuldades
e desenvolva estratégias para
mitigá-las ao longo do seu processo
de implementação.
Para que a criação de valor seja
efetiva e percebida pelos sócios
é importante que exista um
alinhamento de expectativas entre
estes e o conselho em relação ao seu
funcionamento, atuação e atribuições.
A avaliação periódica do conselho
pode oportunizar o aprimoramento do
seu funcionamento. No decorrer do
mandato dos conselheiros consultivos,
é importante que tanto eles quanto
os sócios e administradores consigam
identificar o que não está funcionando
e pode ser melhorado, além de buscar
o aprimoramento das práticas de
governança corporativa.
Logo, o conselho consultivo efetivo
pode ser um fórum relevante de
recomendações e orientações
estratégicas, ajudando os sócios e
executivos a enfrentarem os diversos
desafios e riscos do negócio.
1.2. Conselhos consultivos
em diferentes tipos de
organização

Apesar desta publicação estar
direcionada à implementação e
condução de conselhos consultivos
em empresas de capital fechado, é
importante observar que este fórum
pode ser encontrado em diversos
tipos de organizações, ainda que
com dinâmicas distintas. O quadro 1
apresenta, de modo geral e a título de
exemplo, algumas características de
conselhos consultivos encontrados em
startups e scale-ups, organizações sem
fins lucrativos, companhias abertas,
multinacionais e nas próprias empresas
de capital fechado.

Quadro 1. Conselho consultivo em diferentes tipos de organização

Startups e scale-upsUm conselho consultivo como apoio a startups e scale-ups
com conhecimento técnico, expertise na indústria e rede de
relacionamento, de modo a fazer com que os empreendedores
encurtem caminhos ao lidar com os desafios de determinada
indústria.
Conselhos consultivos tornam-se importantes nesse tipo de
negócio, à medida que startups e scale-ups avançam nas etapas
de ideação, validação, tração e escala.4
Organizações sem fins lucrativosUm conselho consultivo para tratar de temas específicos,
como: captação de recursos, revisão da proposta de valor,
representatividade junto a determinado público, recrutamento e
formação de líderes etc.
Empresas de capital fechado (sem CA)Fórum de debates, construção de consensos e recomendações
sobre temas relevantes do negócio, auxiliando sócios e
administradores na tomada de decisão, na orientação
estratégica e no monitoramento da empresa.
Companhias abertasPor tema : Um conselho consultivo criado para apoiar os
executivos e o conselho de administração em aspectos
particulares do negócio (pesquisa científica, tecnologia,
desenvolvimento de produtos, relações governamentais etc.)
Por projeto: Um conselho consultivo criado também para apoiar
projetos específicos, trazendo especialistas independentes para
discussões e debates sobre o projeto, de modo a aperfeiçoá-lo e
garantir que está seguindo no rumo adequado.
MultinacionaisUm conselho consultivo para apoiar o CEO e os executivos de
determinado país ou região geográfica, trazendo expertise sobre
o mercado local, o ambiente político, cultural e de negócios,
favorecendo o estabelecimento de conexões locais.

Em todos esses casos, mas não se limitando a eles, o conselho consultivo se mantém
como fórum para debates e recomendações, sem poder decisório.

  1. Para saber mais sobre as questões de governança no universo das startups e scale-ups, consulte: IBGC,
    Governança Corporativa para Startups & Scale-ups, 2019. Disponível em: conhecimento.ibgc.org.br/
    Paginas/Publicacao.aspx?PubId=24050

1.3. Diferenças entre conselho consultivo e conselho de administração

Muitas dúvidas surgem a respeito das diferenças entre um conselho consultivo e um
conselho de administração. No quadro 2 estão elencados os principais aspectos que
diferem e delimitam a atuação de um e de outro.
Quadro 2. Diferenças entre conselho consultivo e conselho de administração

Conselho consultivo

Fórum facultativo

Não tem autoridade para deliberar e tomar decisões.
Debate e recomenda.

Seus membros, nesta condição, não são administradores
da empresa e, portanto, não assumem, a priori,
responsabilidade fiduciária. Isso não significa que
seus membros não têm responsabilidade; apenas que,
enquanto membros de fórum de aconselhamento, suas
responsabilidades são, em princípio, diversas daquelas
atribuídas aos administradores (ver, a este respeito, o
item 1.4 desta publicação).

Apoia sócios e executivos, debatendo ideias e
auxiliando na construção de consensos e eventuais
recomendações (não vinculantes).

Sócios e executivos podem ou não seguir
as recomendações do conselho consultivo
(aconselhamento não vinculante).

Não há obrigação legal de ser estatutário, composto
por no mínimo três membros, nomeados por
sócios/acionistas.
Conselho de administração

Fórum obrigatório apenas em empresas de capital
aberto, sociedades de capital autorizado e de economia
mista. Facultativo nas demais

Delibera e toma decisões.


Seus membros são administradores da empresa,
praticam atos de gestão e, consequentemente, possuem
responsabilidade fiduciária claramente estabelecida em
lei (ver, a este respeito, o item 1.4 desta publicação).


Toma decisões estratégicas, prestando contas aos
acionistas e auxiliando-os nos termos da lei.


As decisões e deliberações do conselho de
administração são mandatórias no âmbito da empresa
(decisões vinculantes).


Necessariamente estatutário e integrado por, no mínimo,
três membros, eleitos sempre pela assembleia geral de
sócios/acionistas.
1.4. Limites e responsabilidades
legais do conselho consultivo


O conselho consultivo é um fórum
estruturado por interesse dos sócios
de empresas de capital fechado,
sem que haja qualquer exigência
ou mesmo previsão legal para sua
existência. Seu funcionamento deve
ser regulado na formalização interna
do sistema de governança da própria
empresa, por exemplo através de um
regimento próprio, no qual fiquem
claras as funções consultivas do
fórum, assim como os critérios para a
seleção e nomeação dos conselheiros,
a periodicidade e formato das reuniões,
os registros necessários, como atas,
e outras normas que os sócios ou
executivos considerem importantes.
Não sendo um fórum de administração
e nem de fiscalização, não cabe ao
conselho consultivo deliberar ou
tomar qualquer decisão, atribuição
exclusiva de sócios, acionistas e/
ou administradores estatutários da
empresa, tampouco fiscalizar sua
gestão. Suas contribuições estão
circunscritas a dar suporte amplo aos
sócios ou administradores (conforme
o caso), ou seja, fomentar o debate
e emitir opiniões e aconselhamentos
acerca de temas relevantes para a
empresa e sua estratégia 5.


5. Não obstante a questão da responsabilidade
do conselho consultivo em empresas de
capital fechado não tenha sido enfrentada
com profundidade em processos judiciais
No conselho consultivo, os
conselheiros não são administradores.
Administradores são pessoas que
exercem a função de gerir e conduzir a
empresa, tomando decisões e agindo
no interesse dela, de acordo com
os poderes que lhes são conferidos
pelos atos constitutivos da empresa6.
Administradores estatutários possuem
deveres fiduciários para com a empresa
na qual foram eleitos e, em certas
circunstâncias, podem responder
pessoal e diretamente pelos danos
causados a ela ou por ela a terceiros,
conforme características específicas a
serem apuradas em cada caso.
De igual maneira, o conselho
consultivo não é um órgão de
administração. O artigo 139 da Lei
das S.A. prevê que “as atribuições e
poderes conferidos por lei aos órgãos
de administração não podem ser
outorgados a outro órgão, [seja ele]
criado por lei ou pelo estatuto”. A partir
desse dispositivo legal, compreendese
que não é legalmente admissível
delegar ao conselho consultivo,
portanto, quaisquer poderes que, pela

e não exista jurisprudência consolidada a
este respeito, parece adequado concluir que
não caberia atribuir ao conselho consultivo
as mesmas responsabilidades atribuídas a
um conselho de administração, com poderes de
tomada de decisão.
6. Para saber mais sobre a responsabilidade dos
administradores, consulte: IBGC, Orientação
jurídica para conselheiros de administração
e diretores de sociedades empresárias, 2022.
Disponível em: conhecimento.ibgc.org.
br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=24584
Lei, são de atribuição exclusiva de
sócios ou outros administradores.
É importante destacar que, caso o
conselho consultivo atue de maneira
similar ou idêntica a um conselho
de administração, ou seja, decidindo
sobre determinada matéria de
forma vinculante, ele assumirá o
dever fiduciário típico de um fórum
de administração, mesmo que,
legalmente, não ocorra a chamada
delegação de funções e que seja
nominado como “consultivo” e
não como “de administração”. Em
outras palavras, se os conselheiros
consultivos agirem de maneira
deliberativa, em vez de consultiva,
eles estarão, na prática, exercendo
funções de administradores, o que –
independentemente da nomenclatura
atribuída ao cargo – implica as
responsabilidades e os deveres
fiduciários previstos em lei.
Com relação aos deveres legais,
independentemente do cargo de
administrador ou não, a Lei das
S.A., em seu artigo 160, estende
aos membros de quaisquer fóruns
criados pelo estatuto, com funções
técnicas ou destinadas a aconselhar
os administradores, todos os deveres
e responsabilidades legais previstos
nos artigos 153 a 159 da referida lei.
Assim, para evitar que aos membros
do conselho consultivo – que atuem
como tal, sem desvio de função
– sejam estendidas as mesmas
responsabilidades atribuídas a
administradores da empresa, é
fundamental que existam regras claras
sobre seu funcionamento e o caráter
não decisório de sua atuação, podendo
ser adotadas medidas como:
vinculação a um regimento interno
que identifique, com clareza,
as atribuições (consultivas e de
aconselhamento não vinculante) e os
limites das funções deste colegiado;
definição de prazo de mandato e
regras de eleição/nomeação dos
seus membros;
cautela e atenção ao exercício
prático das atribuições do conselho
consultivo, sendo documentada
(em atas ou documentos de
trabalho) a essência de sua
atuação consultiva, sempre sendo
lembrado de que se trata de um
fórum consultivo e não decisório;
atenção para que as comunicações
informais, como e-mails e
mensagens de aplicativos,
reflitam, também, a prática fiel às
atribuições do conselho consultivo;
adoção de uma sistemática de
organização de documentos
apartada dos documentos
da gestão da empresa para
demonstrar o caráter consultivo
estrito deste conselho.

O conselheiro consultivo, pautado sempre pela boa-fé e pelo interesse da
organização, deve limitar sua atuação a emitir recomendações e aconselhamentos
sobre temas de interesse da empresa. Assim, é necessário avaliar a responsabilidade
subjetiva do conselheiro consultivo, caso ele aja de forma abusiva ou desviante
de suas funções. Além disso, cabe considerar sua responsabilidade objetiva se
ele contrariar a lei ou os atos constitutivos da empresa, os quais deve conhecer e
observar, assim como fazem os conselheiros de administração e diretores

Quadro 3. Limites e responsabilidades do conselho consultivo

Deliberação × recomendaçãoUm conselho consultivo não toma decisões, pois não lhe
é atribuído poder deliberativo. Ele debate, opina, sugere
e recomenda caminhos, objetivos e ações aos sócios e/ou
administradores, para que estes, dentro das suas atribuições e
alçadas, decidam sobre o ruma da empresa.
Responsabilização dos conselheirosNão sendo o conselho consultivo um órgão de administração, os
seus membros não assumem, a priori, reponsabilidade fiduciária.
Isso não significa que não têm responsabilidade; apenas que, suas
responsabilidades são, em princípio, diversas daquelas atribuídas
aos administradores.
Aparência × formaCaso atue em formato similar ao de um CA, ou seja, decidindo
quanto à determinada matéria de modo vinculante, o conselho
consultivo acabará atraindo para si o dever fiduciário típico de um
órgão de administração, ainda que, legalmente, não possa ocorrer
a chamada delegação de funções e mesmo que seja nominado
como “consultivo” e não como de “administração”.
Adoção de boas práticas de governançaO funcionamento de um conselho consultivo é naturalmente
menos rígido do que o de um conselho de administração. Mesmo
assim, convém que as empresas que operam com um conselho
consultivo, utilizem como referência os princípios e boas práticas
da 6ª. Edição do Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa do IBGC, onde se aplicarem

2 . O que considerar na
implementação de um
conselho consultivo?

Antes mesmo de se falar sobre a
implementação de um conselho
consultivo, é importante que
se trabalhe a sensibilização e
conscientização a respeito das
motivações e expectativas para a
sua criação. Esse alinhamento de
entendimentos deve ser o primeiro
passo para a construção de um
processo consistente e consciente.
Considerar o conselho consultivo
como parte de uma jornada de
governança mais ampla é essencial.
Independentemente do estágio de
maturidade da governança, o conselho
consultivo é uma ferramenta eficaz
que pode auxiliar tanto empresários
que estão começando do zero
quanto aqueles que já avançaram
e desejam incorporar outras boas
práticas. Dessa forma, práticas como
planejamento estratégico de longo
prazo, demonstrações financeiras
organizadas, acompanhamento e
gestão de resultados, política de
remuneração estruturada para a
liderança, ou até mesmo um acordo
de sócios/acionistas com definições
claras de papéis, responsabilidades
e relacionamentos, podem ser
pontos de partida para o conselho
consultivo – com recomendações para
a sua implantação ou aprimoramento,
conforme o caso.
A implementação de um conselho
consultivo pode ser facilitada
com o apoio de uma consultoria
especializada, ou mesmo de um
primeiro conselheiro que não tenha
vínculo prévio com a empresa, seus
sócios ou a família, que possua
conhecimento sobre governança
corporativa e experiência nas
dinâmicas e nos relacionamentos de
empresas familiares e que possa atuar
de forma neutra e imparcial.
O ideal é que o conselho consultivo
seja planejado com antecedência, e
não criado em momentos de crise,
conflito ou urgência. Uma premissa
    para o seu bom funcionamento é
    a construção de um ambiente de
    confiança, o que leva tempo para se
    estabelecer. É importante ter ciência
    de que criar uma relação adequada
    entre a gestão, o conselho consultivo
    e os sócios, seguindo os princípios
    e as boas práticas de governança
    corporativa, demanda tempo
    e aprendizado.
    Este capítulo aborda esse e outros
    aspectos apresentando as motivações
    e resistências que geralmente
    precedem a implementação de um
    conselho consultivo. Além disso,
    destaca seus benefícios, objetivos e os
    estágios de evolução desse fórum.
    2.1. Motivações para a
    implementação do
    conselho consultivo


    Conforme a empresa avança em seu
    ciclo de desenvolvimento, os desafios
    também aumentam e tendem a ser
    tornar mais complexos. Uma jornada
    bem conduzida de evolução na
    governança corporativa, por meio
    da adoção das melhores práticas –
    incluindo não apenas a implementação
    e/ou o fortalecimento do conselho
    consultivo, mas também de outros
    fóruns, como a assembleia de
    acionistas em sociedades anônimas,
    reunião ou conselho de sócios em
    sociedades limitadas e conselho de
    família em empresas familiares –,
    pode auxiliar a empresa a enfrentar
    esses desafios com maior confiança
    e estabilidade.
    No quadro 4 são apresentados alguns
    fatores que, na prática, podem indicar
    a necessidade de fortalecimento
    da governança, processo no qual
    o conselho consultivo pode ser um
    importante passo.

    Quadro 4. Motivadores para a criação de um conselho consultivo

    Fatores internos

    Aumento da complexidade societária: a
    necessidade de alterar ou formalizar a estrutura
    societária, separar claramente o patrimônio da
    empresa do patrimônio dos sócios, e definir os papéis,
    responsabilidades e expectativas dos proprietários.
    Fatores externos

    Dificuldades com ambiente competitivo: a
    necessidade de se manter competitivo em um mercado
    dinâmico e inovador pode levar a empresa a buscar
    conhecimentos especializados para diferenciar suas
    estratégias, diversificação de negócios ou melhoria
    de resultados.
    Desafios de sucessão: o falecimento do fundador,
    mudanças na sociedade e problemas de sucessão
    podem requerer orientação para a continuidade
    do negócio. A entrada de uma nova geração na
    sociedade pode trazer uma dinâmica diferente e a
    necessidade de novas estruturas de governança,
    entre as quais o conselho consultivo.
    Busca por investidores: no processo de crescimento,
    as empresas naturalmente são expostas a mecanismos
    mais sofisticados de financiamento e acesso a capital. A
    existência de um conselho consultivo pode demonstrar
    uma governança robusta e aumentar a confiança de
    investidores ou instituições financeiras.
    Mistura de papéis: a necessidade de separar
    claramente os papéis entre sócios, familiares e
    executivos, muitas vezes pelo crescimento natural das
    famílias e entrada de novos membros na empresa.
    Desejo pela evolução dos negócios: boa governança
    atrai talentos e bons parceiros de negócios; os melhores
    clientes, fornecedores, instituições financeiras e
    profissionais competentes. Esses públicos não se
    interessam por empresas que não funcionam de
    maneira adequada, não prestam contas, não separam
    o patrimônio dos sócios dos da empresa, não têm
    uma visão de longo prazo e nem políticas claras de
    remuneração. Investir na evolução da governança gera
    confiança e credibilidade.
    Ausência de visão sólida e alinhada de longo prazo:
    necessidade de iniciar ou aprimorar o processo
    decisório estratégico da empresa e/ou desafiar a
    visão de longo prazo para o negócio
    Oportunidade de crescimento acelerado: a expansão
    dos negócios, incluindo a busca por novas tecnologias
    e novos mercados de atuação, gera exigências de
    conhecimentos e habilidades que podem não estar
    prontamente disponíveis na empresa.

    Há diversas questões sensíveis mencionadas acima no contexto específico da
    empresa familiar, como o falecimento ou dificuldades (por questões de saúde, por
    exemplo) do fundador; problemas de sucessão nos sistemas da família, gestão e
    propriedade; eventual despreparo ou desinteresse da geração seguinte; e potenciais
    conflitos entre parentes, que devem ser tratados em fóruns específicos, como o
    conselho de família.
    Essas questões não fazem parte das atribuições do conselho consultivo. Ainda assim,
    é relevante que os conselheiros consultivos as compreendam e incentivem sócios
    e familiares envolvidos a abordá-las nas instâncias apropriadas, com o apoio de
    profissionais qualificados.

    2.2. Benefícios e objetivos do
    conselho consultivo

    O conselho consultivo é um elemento
    importante na governança da empresa
    de capital fechado, especialmente
    pelo seu papel na orientação para a
    tomada de decisão. Se bem estruturado
    e implementado, ele pode oferecer
    perspectivas imparciais e independentes
    sobre as vulnerabilidades e
    potencialidades da empresa, mapeando
    as oportunidades e ameaças do
    mercado e auxiliando na definição de
    uma estratégia de longo prazo.
    Um dos objetivos do conselho
    consultivo é fomentar a criação
    de valor por meio de um processo
    decisório qualificado. Ao reunir
    indivíduos com experiências e
    conhecimentos diversos, o conselho
    consultivo pode estimular debates
    construtivos e promover a troca de
    ideias inovadoras para a resolução de
    problemas complexos, impulsionando
    a inovação na empresa. Além de
    agregar diversidade de pensamento,
    essencial para a identificação de
    novas oportunidades de negócios,
    o conselho pode contribuir com
    networking qualificado, facilitando
    parcerias estratégicas e oportunidades
    de negócio por meio de sua rede de
    contatos e relacionamentos.
    Além disso, pode contribuir para o
    desenvolvimento das lideranças,
    por meio de recomendações que
    ajudem a aprimorar as habilidades
    da equipe diretiva. Essa orientação
    pode auxiliar a construção de uma
    cultura organizacional forte e o
    aperfeiçoamento de talentos internos,
    bem como a preparação da sucessão
    em cargos-chave da empresa,
    favorecendo, assim, a continuidade e a
    estabilidade institucional.
    O conselho consultivo pode (e deve)
    aportar conhecimentos relevantes
    na promoção das melhores práticas
    de governança corporativa. Pode
    orientar a prestação de contas, a
    promoção de políticas organizacionais
    diversas, desenvolvidas pela gestão e
    aprovadas pelos sócios, por exemplo
    sobre regime de alçadas, transações
    entre partes relacionadas, gestão
    de crises e de riscos. Inclusive, ao
    avaliar novas tendências tecnológicas,
    mudanças regulatórias e outros fatores
    do mercado, o conselho consultivo
    pode antecipar potenciais ameaças e
    orientar a implementação de respostas
    proativas aos riscos identificados, em
    prol da resiliência e da continuidade
    dos negócios a longo prazo.
    No contexto da empresa familiar, o
    conselho consultivo exerce ainda
    um papel relevante ao atuar como
    facilitador de diálogos sensíveis:
    o conselheiro pode aportar maior
    neutralidade e isenção ao processo
    decisório, por meio de suas
    recomendações, mitigando impactos de
    emoções potencialmente desfavoráveis,
    ou mesmo de eventuais conflitos entre
    membros da família empresária.

    No quadro 5 estão elencados estes e outros potenciais benefícios e objetivos
    decorrentes da instalação de um conselho consultivo.

    Quadro 5. Benefícios do conselho consultivo

    Benefícios

    Alinhamento estratégico e visão de
    longo prazo
    Proporcionar um espaço de alinhamento dos interesses dos sócios
    com os objetivos estratégicos da empresa, promover diálogos sobre
    propósito organizacional, visão e objetivos de longo prazo, apoiar na
    condução do processo de planejamento estratégico da empresa.
    Neutralidade e imparcialidade no
    processo decisório
    Um conselheiro independente pode atuar como facilitador em
    situações de conflitos durante as reuniões do conselho consultivo,
    ajudando o grupo a abordar os temas de forma neutra e imparcial
    preservando relações pessoais e profissionais.
    Condução adequada de processos
    de sucessão
    A sucessão na liderança das empresas é um assunto delicado e
    sensível, que demanda condução adequada para a qual o conselho
    consultivo pode contribuir, atuando muitas vezes em parceria
    com o conselho de família, sócios controladores e/ou consultorias
    especializadas.
    Aperfeiçoamento da gestãoIncentivar a introdução das melhores práticas de gestão empresarial,
    estimulando a eficiência e a inovação, além de contribuir para tornar a
    empresa cada vez mais transparente.
    Suporte para gestão de riscos e
    de crise
    Adotar uma abordagem apropriada para a identificação, gestão,
    mitigação e contingenciamento de riscos potenciais pode fornecer
    suporte crucial para a empresa navegar por situações de crise ou
    transição. Além disso, a diversidade de conhecimentos e experiências
    no conselho consultivo contribui para a construção de uma
    organização mais resiliente e adaptável.
    NetworkingO conselheiro com experiência acumulada e rede variada de
    relacionamentos pode trazer acesso e ajudar a fazer a ponte com
    prestadores de serviço de excelência: consultores; headhunters etc.
    Alinhamento de valores, fortalecimento
    da cultura organizacional e
    preservação de legado
    O conselho consultivo pode ajudar a alinhar os valores dos sócios
    ou da família com os objetivos empresariais, fortalecendo a cultura
    organizacional e viabilizando a preservação do legado
    Atração e retenção de talentosA implementação de políticas de gestão de pessoas alinhadas às boas
    práticas de mercado e de uma cultura meritocrática com o apoio do
    conselho pode aumentar a motivação e a retenção de talentos dentro
    da empresa.
    Conselheiros também podem atuar como mentores para a equipe
    de gestão, promovendo o desenvolvimento de habilidades e
    competências essenciais.

    2.3. Resistências à implementação de um conselho consultivo

    Em processos de mudança, é comum que resistências surjam, e a criação de
    um novo fórum para discussão de temas estratégicos e reflexão sobre os rumos
    do negócio não é exceção. A implementação de um conselho consultivo pode
    incentivar transformações nos processos internos, como no fluxo de informações,
    e, de forma mais abrangente, na própria cultura organizacional. Essa mudança
    cultural se manifesta na adoção de novas práticas e na abordagem sobre a análise e
    discussão de temas relevantes.
    O quadro 6 indica uma lista de fatores que, em geral, são fontes comuns de
    resistência por parte de sócios e executivos à implementação de um conselho
    consultivo. Compreender essas resistências é fundamental para que a jornada de
    governança seja conduzida de maneira harmoniosa e eficaz.

    Quadro 6. Resistências ao conselho consultivo

    Resistências

    Medo de perder autonomia
    e controle
    Descrição

    Por desconhecimento, fundadores e sócios podem temer perder autonomia e
    controle sobre as decisões estratégicas ao introduzir um conselho consultivo.
    Percepção de
    custo elevado
    Implementar e manter um conselho consultivo pode implicar em custos adicionais,
    incluindo honorários dos conselheiros e despesas operacionais.
    Desconfiança sobre a
    governança corporativa
    Crença de que a governança corporativa é um modismo, perda de tempo, que irá
    burocratizar a empresa, ou que um conselho (de administração ou consultivo) serve
    apenas às grandes empresas.
    Ceticismo em relação
    à contribuição dos
    conselheiros
    Desconfiança e/ou ceticismo em relação aos conselheiros, especialmente se não há
    histórico de trabalho conjunto ou relacionamento prévio.
    Receio de avaliações,
    críticas ou julgamentos
    É natural (e recomendado) que, no exercício de suas funções, os conselheiros
    consultivos avaliem as práticas, processos e estruturas da organização. O receio de
    sócios e executivos receberem outras opiniões e/ou críticas, ainda que construtivas,
    pode dificultar o processo.
    A compreensão sobre os objetivos e
    benefícios de um conselho consultivo
    ajuda a superar as resistências;
    entretanto, ainda assim dificuldades
    serão encontradas, especialmente na
    fase inicial, em que muito precisará
    ser experimentado, aprendido e
    incorporado. Para construir essa
    jornada e minimizar as resistências,
    é importante:
    ter clareza sobre o propósito do
    conselho consultivo. Este é um
    ponto que facilita o engajamento
    dos sócios e gestores para se
    sentirem mais confortáveis em
    fornecer informações estratégicas
    e aceitarem os questionamentos,
    orientações e recomendações;
    trabalhar o entendimento e
    alinhamento sobre o papel e os
    limites de atuação do conselho
    (por vezes, os sócios e executivos
    esperam que os conselheiros
    entrem em questões inerentes à
    gestão dos negócios, ou até no dia
    a dia da empresa);
    determinar os critérios de escolha
    dos conselheiros, em função do
    momento e dos desafios da empresa,
    assim como os mecanismos de
    avaliação de desempenho;
    promover um ambiente de
    confiança entre sócios, gestores
    e conselho de modo que possam
    discutir abertamente sobre os
    assuntos necessários;
    debater o melhor equilíbrio
    entre o ritmo de implementação
    do conselho consultivo e as
    possibilidades da empresa e de
    seus sócios naquele momento
    específico;
    antecipar o preparo e treinamento
    da gestão para lidar com uma
    nova estrutura de governança –
    o conselho consultivo – e a sua
    dinâmica;
    aprender a ouvir profissionais
    que, ao menos a princípio, não
    conhecem o negócio e a empresa
    tão profundamente;
    elaborar e seguir um calendário
    de reuniões e pautas estratégicas,
    com disciplina em relação às datas
    e aos horários acordados.
    Para minimizar as resistências iniciais,
    recomenda-se que o conselho
    consultivo comece mais enxuto e seja
    incrementado ao longo do tempo –
    em termos de número de membros,
    quantidade de independentes,
    formato, regularidade e duração das
    reuniões, apoio de governance officer7
    ou secretário, por exemplo.

    7. Para mais informações, consultar: IBGC,
    Governance Officer, 2022. Disponível em: conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/
    Publicacao.aspx?PubId=24559
    2.4. Jornada evolutiva –
    estágios de maturidade
    dos conselhos consultivos


    Ao longo de sua existência, o conselho
    consultivo deve evoluir e amadurecer
    em relação à adoção das melhores
    práticas de governança corporativa. De
    uma forma geral, pode-se vislumbrar
    três principais estágios de maturidade
    nos conselhos consultivos em relação
    a: composição/estrutura; estilo de
    trabalho/organização das reuniões; e
    temas discutidos/foco das reuniões.
    A seguir são elencadas algumas
    recomendações para situações
    encontradas, geralmente, em cada
    fase da jornada. Embora as situações
    aqui apresentadas estejam ancoradas
    em exemplos observados na prática, é
    importante ressaltar que não se trata
    de um guia exaustivo que pretende
    abarcar os inúmeros e diversos
    contextos encontrados na realidade.
    Portanto, cabe a cada empresário,
    acionista ou gestor interessado no
    tema identificar em qual fase sua
    empresa se encontra no que diz
    respeito aos conselhos consultivos,
    levando em consideração que
    aspectos de fases diferentes podem
    existir simultaneamente.
    i. Fase inicial – Constituição e início
    de funcionamento

    Neste estágio, o foco é estabelecer
    a estrutura e os processos básicos,
    incluindo o escopo de atuação, do
    conselho consultivo. A familiarização
    dos sócios nos conceitos de
    governança é essencial. A construção
    de relações de confiança entre
    os conselheiros, sócios e a equipe
    de gestão é uma prioridade, com
    foco na comunicação aberta e
    transparente. Também é importante
    um plano com feedback e propostas
    de aprimoramento relacionados ao
    conteúdo e à dinâmica das reuniões.
    Apesar de ser comum que os sócios
    queiram compor o conselho consultivo
    com pessoas que já conhecem e
    confiam, contar com conselheiros
    independentes desde o primeiro
    momento é uma boa prática e poderá
    fazer diferença no valor que o conselho
    consultivo irá agregar.
    Há a tendência, nessa fase inicial, de
    maior simplicidade na preparação e na
    condução das reuniões, por exemplo
    com pouca antecedência no envio das
    pautas, falta de registros adequados
    sobre as discussões, ausência de
    indicadores estruturados para
    acompanhamento da gestão ou pouco
    aprofundamento nas informações
    apresentadas ao conselho consultivo.
    É comum também que as primeiras
    reuniões foquem nas questões do dia a
    dia da empresa.
    Neste sentido, é válido enfatizar a
    importância do preparo por parte
    dos conselheiros consultivos,
    especialmente quando se tratar do
    primeiro conselho na história da
    empresa, em termos de capacidade
    de leitura de ambiente, habilidade de
    influência e construção de relações de
    confiança, maturidade para entender o
    momento e forma ideal para direcionar
    determinadas pautas etc. Conselheiros
    externos e independentes podem
    exercer um importante papel
    de “educador” e “orientador”,
    incentivando a implementação de
    ações necessárias, e eventualmente
    demonstrando como a gestão pode
    aprimorar indicadores, relatórios,
    metodologias e planos de negócio,
    para que o conselho faça reflexões
    mais estratégicas e baseadas em
    informações adequadas e confiáveis.
    O conselho consultivo, composto por
    um ou mais membros independentes,
    conhecedores das boas práticas
    de governança, poderá ainda
    auxiliar especialmente as empresas
    de controle familiar. O apoio e a
    orientação para que haja o correto
    encaminhamento das discussões
    pertinentes a cada subsistema (família,
    propriedade e empresa) no fórum
    adequado é muito relevante.
    ii. Fase intermediária – Conselho
    consultivo em operação

    Com o passar do tempo, ao evoluir,
    o conselho consultivo começa a
    ser percebido pelos gestores e
    pelos sócios como um espaço para
    aprofundar discussões e colher
    pontos de vista complementares aos
    já existentes no quadro executivo
    da empresa.
    Na fase intermediária, os processos e
    as práticas do conselho já estão mais
    formalizados, incluindo a criação de
    agendas estruturadas, com a devida
    antecedência, e a documentação
    das reuniões. A empresa avança
    para a produção de um conjunto de
    relatórios e indicadores que permitam
    o acompanhamento efetivo da gestão,
    assim como estimula um melhor
    preparo dos executivos para participar
    das reuniões do conselho, discutindo
    os temas com profundidade.
    É interessante que o conselho conte
    com presença maior de membros
    independentes, podendo ter o
    auxílio de um profissional atuando
    como secretário(a) de governança
    e de comitês temáticos para o
    aprofundamento de assuntos
    específicos. Logo, o papel do conselho
    nessa fase costuma se expandir
    para a discussão de estratégias, de
    riscos e avaliação de desempenho,
    ou seja, com foco no planejamento
    estratégico e nos pilares do negócio no
    longo prazo.

    iii. Conselho maduro
    No estágio mais avançado da jornada do conselho consultivo, as pautas
    das reuniões são construídas de modo a contemplar temas estratégicos e
    relevantes para a longevidade da empresa, a exemplo de inovação, gestão
    de riscos, compliance, sustentabilidade, desenvolvimento de talentos e
    sucessão. Outras estruturas e ferramentas de governança também podem ser
    implementadas, como o portal de governança corporativa, a área de auditoria
    interna, o canal de denúncias , dentre outros. A qualidade das reuniões aumenta
    consideravelmente, inclusive com feedbacks que são discutidos e incorporados
    nos próximos encontros.
    O presidente do conselho consultivo deve ocupar a função no pleno exercício de
    sua capacidade, e promover no conselho a visão independente, o alinhamento de
    pautas importantes e as articulações pré e pós-reunião, dentre outras atribuições. A
    composição já pode contar com maioria de membros independentes8, levando em
    conta a diversidade de competências, experiências e perfis que se complementem,
    adequando-se ao momento e aos desafios da empresa. Surgem os comitês de apoio
    ao conselho consultivo, de funcionamento estruturado, aprofundando temas e
    levando às reuniões suas análises e recomendações.
    A secretaria de governança evolui e assume mais atribuições: um profissional de
    governança apoia a preparação dos encontros (mediante a elaboração de pauta,
    o encaminhamento de materiais suficientes e adequados para leitura prévia dos
    conselheiros, a devida convocação para as reuniões) e a reunião propriamente dita –
    mediante registro das discussões e pendências geradas a partir da reunião, com a
    posterior elaboração da ata.
    Cabe também ao conselho consultivo estimular a realização de avaliação do CEO e
    do próprio conselho, como uma boa prática através da qual se identificam possíveis
    aprimoramentos.
    O quadro 7 sintetiza as características de cada fase de evolução do
    conselho consultivo.

    1. Conforme o Código: recomenda-se que “o colegiado seja composto somente – ou majoritariamente – por
      conselheiros externos e independentes. Os membros independentes, por sua vez, devem constituir parcela
      relevante do total de membros e assumir o protagonismo, especialmente, em situações de potencial conflito
      de interesse dos conselheiros internos e/ou externos.” IBGC, Código das Melhores Práticas de Governança
      Corporativa 6ª edição, 2023, p. 36.

    Quadro 7. As fases de evolução do conselho consultivo e suas características

    Fase InicialFase IntermediáriaFase Madura
    Pauta das reuniõesReuniões focadas nas
    questões do dia a dia, mais
    operacionais
    Há plano estratégico e
    os pilares do negócio são
    discutidos nas reuniões
    ESG, Inovação, Pessoas,
    Gestão de Riscos e
    Compliance são pauta
    frequente
    Fluxo de
    informações
    Maior informalidade, ausência
    de pauta para as reuniões,
    registos precários do que é
    discutido nas reuniões
    Reuniões mais bem
    preparadas, pautas alinhadas
    com antecedência, materiais
    enviados previamente,
    registro de atas
    Utilização de sistemas de
    governança, permitindo
    acesso aos materiais,
    acompanhamento e interação
    Acompanhamento
    da gestão
    Ausência de indicadores
    estruturados dificultam o
    acompanhamento da gestão
    pelo conselho consultivo
    Empresa já possui um
    conjunto de relatórios e
    indicadores que permitem o
    acompanhamento da gestão
    de forma mais efetiva
    Evolução nos controles,
    auditoria interna, externa e
    gestão de riscos já podem ser
    uma realidade
    Preparação dos
    participantes
    Temas nem sempre
    adequados levados à
    discussão e apresentação
    com pouca profundidade
    efetuada pelos executivos
    Executivos já se preparam
    melhor para as reuniões
    do conselho, permitindo
    discutir os assuntos com
    profundidade
    Feedbacks sobre a qualidade
    das reuniões são discutidos e
    melhorias incorporadas para
    as próximas
    Composição do
    conselho
    Conselho composto em sua
    maioria por sócios e pessoas
    da confiança destes – menor
    presença de conselheiros
    externos ou conselheiros
    independentes
    Maior número de
    conselheiros externos ou
    mesmo de conselheiros
    independentes; participação
    de sócios ou familiares já
    melhor preparados para este
    papel; executivos da empresa
    já não participam como
    membros do conselho
    Número de conselheiros
    independentes recomendado
    pelo Código, com diversidade
    de perfis e competências
    complementares.
    Papel do
    presidente
    Presidência do conselho
    ocupada por fundador
    ou sócio principal, sem
    necessariamente ser o mais
    adequado
    Presidente do conselho
    escolhido entre os que têm
    perfil adequado – fundador
    inclusive, se for o caso
    Presidente do conselho em
    pleno exercício, liderando
    avaliação periódica de
    conselho e conselheiros
    Papel da
    secretaria de
    governança
    Conselheiro externo ou
    conselheiro independente,
    conforme o caso, podem
    exercer um papel orientador
    e educador na estruturação e
    funcionamento do conselho
    Apoio de profissional
    atuando como secretaria
    de governança e possível
    criação de comitês temáticos
    para tratar de temas
    específicos
    Secretaria de governança
    com mais atribuições,
    comitês temáticos
    funcionando bem e sendo
    avaliados periodicamente

    Quando considerar a formalização do conselho de administração
    Pelo fato de o conselho consultivo ser um fórum de aconselhamento e não de deliberação,
    mantendo as decisões nas mãos dos proprietários, é importante destacar que há situações
    em que pode ser recomendável aos sócios considerarem a formalização de um conselho de
    administração em seu lugar.
    A instalação de um conselho de administração pode ser importante quando houver a
    necessidade de separação formal entre a propriedade e a gestão, ou seja, a delegação
    de poder do sócio para um terceiro, o administrador9. Na prática, essa necessidade está
    relacionada com o aumento da complexidade: uma empresa de controle familiar com
    várias gerações, em que o maior número de sócios torne necessária a votação para
    encaminhamento de decisões; o afastamento gradual dos fundadores e sócios do dia a dia
    da empresa; ou uma empresa que objetiva acessar instrumentos de dívida mais sofisticados,
    atrair um sócio investidor ou se preparar para uma abertura de capital (IPO) são exemplos de
    situações (organizadas no diagrama abaixo), que, individualmente ou em conjunto, podem
    levar os sócios de uma empresa de capital fechado a considerarem a transição de um
    conselho consultivo para um conselho de administração.

    Afastamento
    dos sócios do
    dia-a-dia da
    empresa
    Número
    significativo de
    sócios, tornando
    difícil o exercício
    de poder e
    representatividade
    Sucessão na
    propriedade
    trazendo
    demanda por
    novas formas de
    exercer poder e
    representatividade
    Empresa de
    controle familiar
    em que poucos
    ou ninguém da
    família atua na
    gestão
    Intenção
    em acessar
    instrumentos
    de dívida mais
    sofisticados
    Busca por um
    sócio investidor
    Preparação
    para um IPO
    (nesse caso,
    um CA será
    obrigatório

    Em suma, quando houver a necessidade de separar formalmente a propriedade e a
    gestão, e de viabilizar o exercício adequado de representatividade e poder na empresa,
    pode ser adequada a opção por um fórum deliberativo que faça a intermediação entre
    gestores e proprietários

    9.Para maior compreensão sobre o assunto pela perspectiva acadêmica, ver a teoria de agência, em: Jensen
    & Meckling, Theory of the firm: Managerial behavior, agency costs and ownership structure, 1976. Disponível
    em: sciencedirect.com/science/article/pii/0304405X7690026X

    Conselho consultivo é diferente de consultoria
    Ainda que a nomenclatura possa gerar alguma confusão, é fato que o conselho
    consultivo é diferente de um serviço de consultoria.
    No início da jornada de governança, por exemplo, um consultor independente
    com bom conhecimento em governança corporativa e que esteja fornecendo uma
    consultoria especializada no assunto pode ser importante para a idealização e
    concretização do conselho consultivo, bem como para o início do seu funcionamento.
    Enquanto o conselho consultivo tende a se configurar como uma estrutura mais
    duradoura, criada com a finalidade de apoiar a empresa e seus sócios na reflexão
    quanto a temas estratégicos e de longo prazo, uma consultoria tem por objetivo um
    trabalho determinado, com entregáveis pré-acordados e prazo estipulado para a
    conclusão do serviço – possuindo, naturalmente, início, meio e fim. Nesse sentido,
    a indicação para compor o conselho, de um membro que tenha atuado como
    consultor no início, requer ponderação e cautela, buscando evitar possíveis conflitos
    de interesse.
    Tampouco é recomendável que um conselheiro preste serviços à empresa de
    consultoria que participou da formulação do conselho. O conselheiro pode orientar
    que a empresa busque contratar uma consultoria para um assunto específico que
    necessite de maior suporte, mas recomenda-se que não tenha qualquer vínculo com
    esse prestador de serviço.
    Um consultor tem competências técnicas específicas para ajudar a encaminhar um
    determinado problema, como orçamento, fluxo de caixa, gestão de pessoas etc., e vai
    atuar nessa questão por um período determinado. Já o conselho consultivo tem como
    objetivos a sustentabilidade e a perenidade do negócio a longo prazo, incentivando
    a evolução contínua da governança corporativa, bem como desenvolvendo uma
    visão holística do negócio e apoiando sócios e executivos a tomarem as melhores
    decisões possíveis.

    3. Como funciona um
    conselho consultivo?

    Neste capítulo, serão abordados pontos
    relevantes para o funcionamento
    de um conselho consultivo, como a
    composição e dinâmica, papel e perfil
    dos conselheiros, assim como agenda
    e remuneração.
    3.1. Composição e dinâmica do
    conselho consultivo

    A composição adequada de um
    conselho consultivo é essencial para
    sua boa atuação. Cada empresa possui
    características únicas de gestão,
    maturidade, objetivos, desafios e
    talentos em seus quadros, que devem
    ser levadas em consideração para a
    composição do conselho.
    Em cada fase de evolução da
    governança, a composição do
    conselho consultivo pode variar
    significativamente, refletindo as
    necessidades e os desafios específicos
    que ela enfrenta. Numa fase
    inicial, o conselho consultivo pode
    desempenhar um papel mais educativo
    e organizador da governança
    corporativa interna, oferecendo
    recomendações aos sócios e gestores,
    ajudando-lhes a moldar a visão e a
    direção da empresa.
    À medida que a governança evolui,
    o conselho consultivo pode assumir
    características mais específicas
    para ajudar a empresa a identificar
    e enfrentar os desafios que surgem,
    oferecendo ideias ou percepções
    sobre, por exemplo, reestruturação,
    inovação ou outras estratégias para
    revitalizar o negócio. A composição do
    conselho consultivo e as habilidades
    específicas de seus membros devem
    ser adaptadas para atender às
    necessidades evolutivas da empresa.
    Por esse motivo, ao selecionar
    membros para o conselho consultivo,
    cabe determinar as áreas específicas
    de expertise necessárias para as
    demandas da empresa. Desenvolver
    uma matriz de competências de
    acordo com os objetivos estratégicos
    e seus desafios, riscos, oportunidades,
    e maturidade pode ser um caminho
    interessante. As competências
    necessárias podem incluir, entre
    outros, planejamento estratégico,
    finanças, marketing, tecnologia,
    inovação, ESG, desenvolvimento de
    lideranças, auditoria, compliance e
    riscos, e gestão de recursos humanos.
    É fundamental considerar a
    diversidade na composição do
    conselho, contemplando conselheiros
    com competências, experiências e
    vivências que sejam complementares,
    o que possibilita um ambiente
    adequado para o debate das ideias.
    Abarcar pontos de vista plurais
    promove a inclusão e enriquece as
    discussões, favorecendo composições
    que representem melhor a sociedade.
    Importante estabelecer um regimento
    com uma estrutura clara para o
    conselho consultivo, incluindo a
    frequência das reuniões, a duração
    do mandato e as responsabilidades
    dos membros, dentre outros pontos
    relevantes para seu funcionamento.
    Também é válido planejar o
    onboarding dos conselheiros: um
    processo de integração efetivo é um
    componente essencial para ajudar no
    sucesso do conselheiro consultivo,
    porque familiariza os novos membros
    com o propósito, os objetivos, valores
    e cultura da empresa, além de
    capacitá-los com o conhecimento
    e as informações necessárias para
    desempenhar seu papel de forma
    eficaz. Esta é uma oportunidade
    para alinhar as visões, estabelecer
    expectativas mútuas para que todos os
    membros compreendam o seu papel e
    a contribuição esperada.
    É uma boa prática que acionistas,
    conselheiros e gestão combinem
    previamente como se dará a sua
    dinâmica de comunicação, a ponto
    de fornecer atualizações sobre os
    progressos e desafios da organização,
    bem como permitir o acesso às
    informações e recursos necessários
    para o bom desempenho das funções
    de cada uma dessas partes. Isso
    inclui a disponibilização de relatórios
    financeiros, documentos estratégicos,
    histórico da empresa e outros
    materiais relevantes.
    Por fim, é importante avaliar
    regularmente o desempenho
    do conselho consultivo, a fim
    de identificar oportunidades de
    desenvolvimento10. Isso pode envolver
    a coleta de opiniões e sugestões
    de melhoria dos sócios e principais
    executivos, assim como dos próprios
    conselheiros, apoiando a revisão dos
    resultados alcançados e o ajuste da
    composição, se ou quando necessário.

    10. Para mais informações sobre avaliação de
    conselho, consulte: IBGC, Avaliação de
    Conselhos: Recomendações Práticas, 2020.
    Disponível em: conhecimento.ibgc.org.
    br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=24358.
    3.2. Papel e perfil dos
    conselheiros consultivos

    O conselho deve sempre atuar com
    independência visando o melhor
    para a organização: cabe aos seus
    membros oferecer uma perspectiva
    imparcial, com a formulação de
    recomendações não vinculantes e
    com a orientação especializada para
    ajudar as empresas a enfrentarem
    desafios, adaptarem-se às mudanças
    do mercado e alcançarem seu pleno
    potencial. O papel dos conselheiros
    é apoiar os sócios e a liderança na
    evolução da organização e de sua
    governança corporativa, atuando com
    independência.
    Ainda que seja uma prática
    recomendada constituir o conselho
    consultivo com maioria de
    independentes, deve-se considerar
    a relevância de contar também com
    conselheiros que sejam sócios e/ou
    membros da família, quando se tratar
    de uma empresa de controle familiar,
    em razão do profundo conhecimento
    do negócio, dos valores e propósito
    da família controladora11. A boa
    prática de contar com a maioria
    de independentes não exclui a
    importância de haver membros da

    11. Para saber mais sobre o assunto, acesse: IBGC,
    Uma empresa familiar precisa de membros
    da família no conselho, 2022. Disponível em: ibgc.org.br/blog/uma-empresafamiliar-
    precisa-membros-familia-conselho
    família, com o preparo adequado,
    integrando o conselho.
    Ainda no caso das empresas familiares,
    além dos aspectos abordados, vale
    ressaltar o papel do conselheiro
    independente em promover os
    alinhamentos necessários e em
    enfrentar temas delicados que
    demandam a atenção do conselho.
    O perfil desse profissional precisa
    combinar habilidades que sustentem
    tanto as dinâmicas organizacionais
    quanto aquelas inerentes às relações
    familiares, que, em maior ou menor
    grau, permeiam a empresa e as
    discussões no próprio conselho.
    Nos casos em que o exercício dos
    diferentes papéis nas distintas
    instâncias da empresa familiar
    não esteja bem estabelecido, os
    conselheiros independentes podem
    ajudar na busca de alinhamento e de
    orientação, para que os temas corretos
    sejam tratados nos fóruns apropriados
    – por exemplo, no conselho de família
    ou até mesmo na reunião de sócios.
    Vale ressaltar a importância da
    confiança e do alinhamento de valores
    e princípios éticos entre conselho e
    organização. Quando os conselheiros
    compreendem os valores e entendem
    a cultura corporativa, eles estão mais
    aptos a formular recomendações
    alinhadas com os princípios da
    empresa, promovendo um ambiente
    de trabalho coeso e uma direção
    estratégica consistente. Isso favorece

    um relacionamento mais sólido com a liderança, facilitando a comunicação aberta,
    a confiança mútua e o compromisso compartilhado com os objetivos e missão
    da empresa.
    Portanto, o perfil de um conselheiro consultivo não se restringe a competências
    técnicas. Habilidades interpessoais, inteligência emocional e uma profunda
    compreensão acerca das dinâmicas e características típicas da empresa são
    também muito importantes. Especialmente no contexto da empresa familiar,
    é imprescindível o respeito pelos valores e tradições familiares, aliado a uma
    postura que traga confiança e que transmita neutralidade, atuando em função da
    organização e não atendendo a interesses individuais. Essas e outras habilidades
    estão condensadas no quadro 8.

    Quadro 8. Competências importantes para um conselheiro consultivo

    Experiência empresarialnão apenas valida sua credibilidade, mas também fornece compreensão prática
    das complexidades do mundo corporativo, como direcionamento estratégico,
    desenvolvimento de controles para mitigar riscos, gestão etc.
    Competências técnicasconhecimento em finanças, estatégia, governança corporativa, tecnologia,
    inovação, e/ou gestão de pessoas, pois, uma das atribuições é dar recomendações
    para melhoria da gestão
    Inteligência emocionaldada a natureza sensível das relações, um conselheiro consultivo precisa gerenciar
    conflitos de maneira diplomática, compreender as dinâmicas e promover um
    ambiente de comunicação aberto e eficaz, que provoque as mudanças necessárias
    para o sucesso da organização.
    Visão de longo prazodeve buscar orientar a empresa para uma visão estratégica de longo prazo, alinhada
    com os objetivos e os desafios do futuro e tendências de mercado.
    Empatia e respeito pela
    cultura organizacional
    compreender e respeitar os valores e a cultura da empresa, pois assim é possível
    estabelecer entre o conselheiro, o fundador e os sócios a confiança necessária, o
    que favorece a construção de uma cultura organizacional que leve a empresa mais
    longe e de maneira consistente.
    Comunicação assertiva,
    clara e transparente
    a habilidade de comunicar-se de maneira assertiva, clara e transparente, pois o
    conselheiro consultivo articula estratégias complexas de modo compreensível,
    promovendo o entendimento entre os sócios e os executivos da empresa.
    Capacidade de
    mobilização e influência
    habilidade de extrema importância para fazer suas recomendações “serem ouvidas”
    e terem aderência dentro da empresa.
    Domínio das melhores
    práticas de governança
    conhecer as melhores práticas de governança e ter experiência com a dinãmica de
    funcionamento de uma empresa.
    3.2.1. Papel do presidente do
    conselho consultivo

    O presidente do conselho consultivo
    desempenha um papel vital na
    orientação e no funcionamento
    eficiente do conselho. É sua função
    pautar a reunião, conduzir as
    discussões, dar voz e ouvir a todos,
    fazer alinhamento prévio dos assuntoschave,
    garantir que todos recebam
    as informações com antecedência,
    facilitar as discussões e gerenciar
    eventuais conflitos que possam surgir
    durante a reunião e impactar na
    operação da empresa.
    É sua responsabilidade criar um
    ambiente propício para a colaboração
    e a comunicação aberta entre os
    membros, o que envolve a troca de
    ideias, respeito aos diferentes pontos
    de vista e garantia de que todas as
    vozes sejam ouvidas. Ele também pode
    desempenhar um papel fundamental
    na interlocução das discussões e
    na promoção de relacionamentos
    saudáveis entre os membros do
    conselho consultivo e os sócios e
    administradores da empresa.
    É importante ressaltar que a
    presidência do conselho não deve ser
    considerada uma função honorária,
    e sim funcional e com engajamento
    profundo. A função é muitas vezes
    exercida pelo próprio fundador e/ou
    sócio controlador da empresa, nesse
    caso, devendo haver especial atenção
    ao seu preparo para ocupar esse
    papel, mas também pode ser exercida
    por um outro conselheiro que possua
    experiência anterior atuando como
    presidente do conselho.
    3.2.2. O secretário do
    conselho consultivo

    A função do secretário do conselho
    consultivo demanda atenção e
    valorização, já que ele desempenha
    várias atividades essenciais para o
    bom funcionamento e a eficácia do
    conselho. Ele atua como o guardião
    da documentação e o facilitador da
    comunicação, visando garantir que
    todas as atividades do conselho
    sejam registradas com precisão e
    que os membros tenham acesso às
    informações necessárias para fazer
    as melhores recomendações. Essa
    pessoa, com treinamento específico,
    pode ser alguém da família; algum
    membro da empresa com habilidades
    para exercer esse trabalho; ou um
    profissional contratado especialmente
    para essa função, o que pode ajudar,
    por exemplo, a garantir a redação de
    atas que preservem o caráter não
    deliberativo das reuniões do conselho.
    Esse profissional é responsável por
    coordenar a logística das reuniões
    do conselho consultivo, incluindo o
    agendamento, a reserva de salas e a
    distribuição de convites e materiais
    pertinentes com antecedência. Ele
    trabalha em estreita colaboração com
    o presidente do conselho para garantir
    que todas as reuniões sejam realizadas
    com eficácia e que os membros
    estejam devidamente informados sobre
    os assuntos a serem discutidos.
    Durante as reuniões, o secretário
    toma notas precisas e completas das
    discussões e ações acordadas pelo
    conselho consultivo. Ele é encarregado
    de documentar com exatidão os
    principais pontos discutidos, as
    recomendações realizadas, as próximas
    ações a serem tomadas, além de
    identificar os responsáveis por sua
    execução. Além disso, o secretário
    mantém um registro organizado
    de todas as atas e documentos
    relacionados às reuniões do conselho
    consultivo para referência futura.
    O secretário atua como o ponto focal
    para a comunicação entre os membros
    do conselho consultivo e outras partes
    interessadas, incluindo os sócios e a alta
    administração. Ele é responsável por
    enviar convites para reuniões, distribuir
    materiais relevantes, comunicar
    recomendações e ações do conselho
    consultivo e responder a consultas ou
    solicitações de informações.
    É papel deste profissional assegurar
    que todas as atividades do conselho
    consultivo estejam em conformidade
    com os estatutos da empresa e os
    regulamentos aplicáveis. Ele mantém
    os registros atualizados das políticas e
    procedimentos do conselho, atuando
    em prol da conformidade com as
    melhores práticas de governança
    corporativa. A atuação diligente
    desse profissional e sua atenção aos
    detalhes contribui para a eficiência do
    conselho consultivo.
    3.3. Agenda do
    conselho consultivo

    Como o universo das empresas de
    capital fechado é muito diverso,
    é importante que o conselho
    consultivo auxilie os controladores no
    diagnóstico inicial claro dos objetivos,
    metas e desafios da sociedade a
    serem enfrentados em determinado
    período para a definição da agenda
    que direcionará os trabalhos
    do grupo.
    Antes de cada reunião, faz parte das
    responsabilidades dos membros do
    conselho consultivo a preparação
    individual prévia, o que envolve
    analisar documentos, relatórios
    e qualquer informação relevante
    fornecida, além de acompanhar o
    mercado no qual a empresa atua.
    É muito importante que os tópicos
    da agenda estejam claramente
    definidos, alinhados com os objetivos
    estratégicos da empresa e distribuídos
    com antecedência para permitir uma
    reflexão adequada.
    É interessante que os conselheiros
    identifiquem quaisquer questões
    críticas que precisem ser discutidas,
    bem como elaborem perguntas
    relevantes e construtivas. A preparação
    individual é essencial para que a
    reunião seja produtiva e focada nos
    objetivos estabelecidos.
    Durante a reunião, é crucial manter o
    foco nos assuntos da agenda e garantir
    que todos os membros tenham a
    oportunidade de contribuir e expressar
    suas opiniões. É responsabilidade do
    presidente do conselho consultivo
    liderar a discussão de forma eficaz,
    para que todos os pontos de vista
    sejam considerados e que as
    recomendações sejam definidas de
    forma justa e transparente.
    Merece destaque o cuidado com
    a criação e manutenção de uma
    atmosfera de respeito mútuo e
    abertura ao diálogo construtivo. É
    importante que os membros se sintam
    encorajados a questionar ideias que
    soem preconcebidas, a explorar novas
    perspectivas e buscar soluções para
    os desafios enfrentados pela empresa.
    Destaca-se também o gerenciamento
    eficaz do tempo, para que todos os
    tópicos sejam abordados de maneira
    adequada e que os aconselhamentos e
    recomendações sejam encaminhados
    com base em informações consistentes
    e análise cuidadosa.
    Após a reunião, é essencial
    documentar as recomendações
    formuladas, orientar claramente as
    responsabilidades, e aconselhar
    sobre prazos para a implementação
    das ações que porventura sejam
    validadas pelos sócios. Faz parte das
    responsabilidades dos membros do
    conselho permanecer engajados e
    acompanhar de perto o progresso,
    oferecendo suporte e orientação
    conforme necessário.

    É válido também realizar uma avaliação pós-reunião para identificar oportunidades
    de melhoria nas dinâmicas do conselho consultivo. Isso pode incluir a solicitação
    de devolutivas e opiniões dos membros, a revisão dos resultados alcançados
    em relação aos objetivos estabelecidos e o ajuste contínuo do formato e da
    agenda das reuniões.

    3.4. Remuneração dos conselheiros

    O conselheiro consultivo deve ser remunerado adequadamente, considerando
    o mercado, a natureza de suas atividades, a dedicação do seu tempo, o seu
    envolvimento com questões cruciais para a empresa e o valor gerado. Como se trata
    de fórum consultivo não previsto em lei, muitas vezes não estatutário, não há regras
    absolutas quanto à composição da remuneração de seus membros. No entanto,
    dentre as boas práticas recomenda-se que: as remunerações sejam fixas (sem
    parcela variável atrelada a resultados ou outras metas), mensais e iguais para todos
    os conselheiros; em função da maior dedicação de tempo e responsabilidades, o
    presidente do conselho consultivo pode receber uma remuneração maior, desde que
    não excessivamente superior a dos seus pares; e os conselheiros que eventualmente
    também atuem como gestores (conselheiros internos), já sendo remunerados por
    sua atividade executiva, não recebam valor adicional para atuar no conselho.
    Cada empresa deverá ponderar entre os benefícios esperados com a adoção
    do conselho consultivo e a valoração de sua atuação, com o intuito de fixar a
    remuneração adequada a seus membros, o que também passa por eventuais
    limitações impostas pelo estágio de desenvolvimento dos negócios e da capacidade
    econômica da empresa.
    Ainda, pode ser uma boa prática os sócios controladores aprovarem um orçamento
    para o conselho, que seja parte de um centro de custo específico, que preveja
    não só as despesas com a remuneração dos conselheiros, mas também aquelas
    necessárias para o funcionamento adequado do conselho consultivo.

    3.5. Formalização de contratos, regimentos e outros documentos
    O fato de o conselho consultivo ser um fórum mais flexível e menos formal, ou seja,
    potencialmente menos burocrático, confere às empresas maior liberdade para sua
    organização e funcionamento.
    Por outro lado, é fundamental que o caráter consultivo, de aconselhamento e de
    orientação exercido por este conselho, seja formalizado com clareza nas atas das
    reuniões. Essas atas não demandam registro público, mas podem, uma vez assinadas
    por todos os conselheiros presentes à reunião, serem disponibilizadas como
    documentação interna e estarem arquivadas em um local acessível. É recomendável,
    também, uma separação clara de documentos, livros e diretórios que são privativos
    ao conselho consultivo.
    Outra prática recomendável é que seja firmado um contrato entre a empresa e
    cada conselheiro consultivo, no qual fiquem claras suas atribuições e os limites de
    atuação, bem como a remuneração devida, o caráter confidencial das informações, a
    não representação da organização publicamente, e as demais condições aplicáveis à
    sua atuação, de caráter consultivo e de aconselhamento, não deliberativo.

    4. Conclusão

    A publicação A importância do
    conselho consultivo em empresas de
    capital fechado buscou sensibilizar
    o leitor a respeito do conselho
    consultivo, um fórum de suporte,
    construção de ideias e recomendações
    sobre temas relevantes para o
    negócio, por meio do qual é possível
    obter a experiência de conselheiros
    e incrementar as discussões
    empresariais, sem a perda de poder
    decisório dos sócios e administradores.
    Direcionada, sobretudo, para empresas
    de capital fechado, sem a obrigação
    legal de instalar um conselho de
    administração, esta publicação
    apresenta o conselho consultivo como
    uma alternativa à qual os sócios e
    acionistas podem aderir com vistas
    à geração de valor e longevidade do
    seu negócio.
    Diante dos desafios vividos pela
    gestão na atualidade, como a
    rápida transformação digital e as
    questões emergentes em torno
    de crises econômicas, políticas,
    sociais e ambientais, que demandam
    mudanças de atitude por parte de
    gestores, o conselho consultivo pode
    desempenhar um papel importante no
    suporte e orientação de decisões.
    A criação do conselho consultivo
    é uma escolha que se adequa à
    necessidade e ao momento de cada
    organização, contribuindo para
    a sua jornada de governança, na
    medida em que ajuda a aprofundar
    discussões estratégicas e apoiar os
    pilares fundamentais das boas práticas
    de governança.
    Portanto, nesse percurso, a decisão
    consciente e bem-informada de sócios
    e administradores pela implementação
    adequada dessa estrutura dentro
    da organização pode ser um fator
    decisivo com vistas à maturidade do
    negócio, e, sobretudo, seu sucesso e
    sustentabilidade a longo prazo.

    Fonte: conhecimento.ibgc.org.br

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